sábado, 15 de setembro de 2007

O acordar.


"Quem afirmaria, com a certeza das marés, que nascer não é a morte do conhecido? Saiu para o outro lado, transpor o útero e encontrar a incógnita, o que não foi dominado pela experiência. Deixar impiedosamente o calor amniótico, escorrer-se com o líquen sagrado, ver murchar o quente envolvimento placentário. Sai o ser da ambiência escura, movente e sem choques, abandona o encapsulamento aquoso para o destino da respiração solitária. O leito anímico se esvai, acompanha a fuga do ser que, abrupto, busca o destino da luz. Assombra as retinas o raio agressor, os ventos transformam as gomas em películas vítreas, o calor defronta-se com o vento. Estala um grito de engrenagem seca e, depois, o choro intermitente. Nascer é renascer do outro".

Jorge Anthonio e Silva, in Arte e Loucura