sexta-feira, 27 de abril de 2007

Eu de outrora, por Pessoa. De novo.

La mémoire, René Magritte, again.

NA FLORESTA DO ALHEAMENTO
Fernando Pessoa

SEI QUE DESPERTEI e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver, diz-me que é muito cedo ainda. . . Sinto-me febril de longe. Peso-me não sei por quê...
Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre um sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-me, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho.
Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu sou de desperto. Cai de um firmamento desconhecido um orvalho morno de tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro, e incerta, altera-me como a brisa aos perfis das copas.
Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra. Sou todo confusão quieta. . . Para que há de um dia raiar?. . . Custa-me o saber que ele raiará, como se fosse um esforço meu que houvesse de o fazer aparecer.
Com uma lentidão confusa acalmo. Entorpeço-me. Bóio no ar, entre velar e dormir, e uma outra espécie de realidade surge, e eu em meio dela, não sei de que onde que não é esse...
Surge mas não apaga esta, esta alcova tépida, essa de uma floresta estranha. Coexistem na minha atenção algemada as duas realidades, como dois fumos que se misturam.
Que nítida de outra e de ela essa trêmula paisagem transparente!. . .
E quem é esta mulher que comigo veste de observada essa floresta alheia? Para que é que tenho um momento de mo perguntar?. . . Eu nem sei querê-lo saber. . .
A alcova vaga é um vidro escuro através do qual, consciente dele, vejo essa paisagem. . . e essa paisagem conheço-a há muito, e há muito que com essa mulher que desconheço erro, outra realidade, através da irrealidade dela. Sinto em mim séculos de conhecer aquelas árvores, e aquelas flores e aquelas vias em desvios e aquele ser meu que ali vagueia, antigo e ostensivo ao meu olhar, que o saber que estou nesta alcova veste de penumbras de ver. . .
De vez em quando pela floresta onde de longe me vejo e sinto, um vento lento varre um fumo, e esse fumo é a visão nítida e escura da alcova em que sou atual destes vagos móveis e reposteiros e do seu torpor de noturna. Depois esse vento passa e torna a ser toda só-ela a paisagem daquele outro mundo...
Outras vezes este quarto estreito é apenas uma cinza de bruma, no horizonte d'essa terra diversa... E há momentos em que o chão que ali pisamos é esta alcova visível...
Sonho e perco-me, duplo de ser eu e essa mulher. . . Um grande cansaço é um fogo negro que me consome. . . Uma grande ânsia passiva é a vida que me estreita. . .
Ó felicidade baça... O eterno estar no bifurcar dos caminhos!. . . Eu sonho e por detrás da minha atenção sonha comigo alguém. . . E talvez eu não seja senão um sonho desse Alguém que não existe. . .
Lá fora a antemanhã tão longínqua! a floresta tão aqui ante outros olhos meus!
E eu, que longe desta paisagem quase a esqueço, é ao tê-la que tenho saudades d'ela, e é ao percorrê-la que a choro e a ela aspiro...
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Palavras de outrem sobre tempos de outrora, mas que nunca deixarão de ser tão minhas...
E é bom estar a contemplar as águas, as sombras, perceber e sentir que delas fomos familiares, e regozijar-se do tempo conjugado no passado.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Outros ventos.

Magritte.

Como diria Clarice, estou passando por um "período hiato" em matéria de produção de alguma coisa pra blog.
As demandas do ambiente tem sido muitas, muitas mesmo.
Mas aqui, deixo pelo menos umas cositas dignas de nota.
Estou conseguindo. Definitivamente, estou conseguindo, passando da fase das sombras e enxergando a vida com lentes apropriadas; não mais míope, não mais embaciada de sombras. Isso aqui deixo para todos os que, por ventura, chegarem a desacreditar na vida e nas suas múltiplas possibilidades, assim e exatamente como eu desacreditei, e muitas vezes não tive outra opção a não ser desistir. Quando faltam as forças...
Daí, sai como uma louca, buscando essa tal de força, e, pessoas, confesso: consegui.
Cheguei lá.
Ressalto: NÃO É IMPOSSÍVEL.
Mais uma ressaltada: É MUITO DIFÍCIL E DEMORADA essa chegada.
Outros dizeres falariam muito melhor por mim, muito mais acuradamente sobre, que tal: "saco vazio não pára em pé", e "a vida não pára"? Sim, sim, esses ditos mesmo!! Ao ganhar forças pra 'encher o meu saco' (e até então o problema tinha sido esse, força), parei em pé, bem andante, e estressada, a mais feliz do mundo. Hum, e com certeza, pro saco andar, não era apenas necessária a comida do ditado.
E as inúmeras voltas da vida acabaram trazendo-me a capacidade de enxergar que em tudo, temos no mínimo, dois lados, verdade essa que eu já conhecia (e já jogava aos sete ventos), mas ver o segundo lado das coisas é onde se encontrava o nó.
Desatei.
E o que eu queria deixar anotado é isso: NÃO DESISTAM DE VOCÊS MESMOS.
Contemos tantos tesouros, tantas potencialidades dentro de nós, mas alguma coisinha pode estar, feito tule, fazendo barreira.
Mas tule se rasga.
E o período é tão hiato em matéria de produção pra blog que eu nem imagino se vcs entenderam alguma coisa.
E queria muito que entendessem...
Prosas sobre seriam muito bem vindas.
É só marcar... Boooooora??

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Ah, quanta coisa pra fazer!!!

Aos visitantes, um pedido de desculpas pelo estado de abandono do blog.
A universidade tá com toda a mulesta, trabalhos, provas, seminários mil, ando realmente sem tempo!!
Mas, vai aqui uma musiquinha, fala de pressa, já foi uma vez até o "about me" do orkut, e reflete essa ânsia apressada de minh'alma (e outras alminhas apressadinhas tb...) e tb o remédio: dar tempo ao tempo.
E os louvores todos à capacidade que está se consolidando em mim, de movimento.
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A Natureza Das Coisas
Santanna
Composição: Accioly Neto

"Ô chá, lá, lá, lá, lá
Ô chá, lá, lá, lá, lá

Se avexe não...
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada.

Se avexe não...
A lagarta rasteja
Até o dia em que cria asas.

Se avexe não...
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa.

Se avexe não...
Amanhã ela pára
Na porta da tua casa

Se avexe não...
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá...

Se avexe não...
Observe quem vai
Subindo a ladeira
Seja princesa, seja lavadeira...
Pra ir mais alto
Vai ter que suar.

Ô coisa boa é namorar,
Ô coisa boa é namorar"
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E falta tão pouco, Minh'Alma... Já temos tão solenemente vivido, incrustado, companheiro, o AMOR...
E agora também pernas andantes...
Só falta o resto, danada apressada!
"Se avexe não"...