domingo, 25 de fevereiro de 2007

Providência do Provedor


Pei-buf. É assim que funciona.

Não como prego-batido-ponta-virada, de uma ou duas marteladas, o troço demora, mas quando funciona... FUNCIONA. Pei!

A droga deu o click. De repente acordo eu, sozinha, as sete da matina, sem artifícios extras.

Acordei, e... SUPER EXTRA!!! Animada pra dedéu, do nada, contente feito pinto no lixo.

Separei uns cds, melhor, os cds, os tenho poucos (ainda), e fui escutando e balançando ao som dos sons, preparando a lapada matinal (tal turno meio inédito) de café.

Portishead, pra começar sem entender nada, como eu mesma não estava entendendo (porém adorando) o meu atual estado de espírito.

Ah, Tio Sam, filho da puta... Vá enrabar o país do cão!! Dificultar o entendimento alheio... O meu não. Um dia te coloco no chinelo (puta com isso, mas, pra tudo é preciso conhecimento).

Vou me enganar com a necessidade de aprender uma nova língua, o quanto isso é indispensável, e tal, o mundo que se abrirá pra essa semi-analfabeta no Brasil por não saber inglês, blá, blá, bah! Ah, se pelo menos a psicologia que estudo não derivasse, em sua maioria, de materiais redigidos por americanos, eu começaria pelo francês. A revelia, irei pro inglês mesmo.

Fiquei lá, chacoalhando ao desentendimento, apenas aspirando o erótico inconfundivelmente visível nos gemidos “Hmm just / Give me a reason to love you / Give me a reason to beeeee / A woman / Tandan, tandan, tandam / I just wanna be a woman”.

E como por aqui tentarei o máximo possível não cultuar o famigerado Tio, acho que a mulher que canta quis dizer que “hmmm apenas / dê-me uma razão pra amar você / dê-me uma razão para seeeeeeeeer uma mulher / Tandan, tandan, tandam / eu quero apenas ser uma mulher”. Os mais letrados que possam adaptar melhor essa tradução, se possível, pronunciem-se e tenham desde já minha imensa gratidão.

Pode crer, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é.

E tomei umas lapadas de café, pão integral com queijo, o cigarro de menta fumado meio as escondidas na sala de dentro da casa (todos estavam dormindo mesmo...), e sorrindo, com vontade de fazer mil coisas.

Fui dar uma geralzinha na casa, limpei a mesa, lavei uma tuia de pratos... Feliz da vida.

Arrumei minha cama, lavei minhas roupas.

A essa altura, a mulher dos gemidos já tinha sido substituída por Lenine e seu som energético-político-carnavalesco-brasileiro que me balançou bem mais ainda, enquanto estendia as roupas cheirosinhas e limpinhas no varal banhado de sol do meu quintal, e fiquei por um tempo enternecida com a natureza que rodeia todos os dias a minha casa mas só é devidamente apreciada nesses estados de beatitude.

Cara, tem um passarinho lindo, grande, do papinho amarelinho, que está sempre por lá!!! Junto com as lavadeiras, os bem-te-vis, os cajueiros, os pés de pitanga (que estão bombando em produção!), o cachorro, tudo convivendo em perfeita harmonia.

Fiquei a pensar nos passarinhos.

Tá, confesso, a sentir uma certa inveja dos passarinhos.

Além de poderem voar, eles, como vieram pré-programados, estão lá, com a vidinha ganha, os ninhos confortáveis, os companheiros, os filhotinhos pra alimentar, e fazem tudo isso sem qualquer impedimento.

Ah, esse mal de questionar... Queria eu ter exercido a tendência natural de seguir a vida como deve ser seguida sem muito questionar.

Talvez assim, a próxima melodia do som que chacoalhava a minha inédita manhã não tivesse tocado tanto: Elis.

Lá vem ela, com sua voz de passarinha (quase ironia...) cantarolar pra minh’alma que eu tenho mais de vinte anos, mais de vinte muros, mais de mil perguntas sem respostas e que estou mesmo ligada num futuro blue.

Lembrou-me mesmo do espanto de perceber que tenho mais de vinte anos.

Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, essa energia que me eleva dá, agora, um alento a minha alma apressada, em saber que eu tenho duas pernas atuantes agora, dois olhos vendo muito coloridamente a vida agora, um cérebro funcionando melhor agora e uma boca pra ir à Roma, e um todo ser completo e complexo, em sua plenitude, pra ajudar no pular dos mais de vinte muros.

4 comentários:

Unknown disse...

Fiquei feliz ao ler esse post. E não fique trite com a idade não. Digamos q a gente vá viver uns oitenta anos... Estamos apenas no começo dessa jornada. Força!

Unknown disse...

É. Bom era estar como os passarinhos. Bonitinho demais. Mas, mesmo assim têm de catar coisinhas para comer. Vão em busca de algo. Provissório ou imponderável. Como nós. As cobaias necessitadas, desejosas, precisadas, carentes. O Provedor garantir-nos-á. As aves do céu e os lírios do campo, com certeza e pelo menos.

Unknown disse...

O de cima é um comentário de Rodrigo da Costa. Porcaria de tecnologia que não sei manusear.

Unknown disse...

menina!! eu tenho que abrir uma conta pro meu nome sair né? vichi..
Rodrigo da costa. Te amo. Amo AlexAnder também.