Existem pessoas que dominam tanto o poder da palavra, mas tanto, em tão tamanha profundidade, que se tornam capazes de distorcer o sentido de muita coisa pra coisa que quiserem que seja: bom para mau, doce para salgado, feio para bonito, dentre mil e outras variantes de coisas opostas. Ok, tudo é relativo, mas, prossigamos.
Em estudos posteriores, de datas longínquas, ouvi essa arte ser chamada de retórica, melhor, tinha entendido isso sob essa alcunha nos meus tempos de colégio, só depois vim descobrir que era outra coisa, como a gente sempre descobre com o passar das séries que o que aprendíamos de um jeito era depois ensinado de outro completamente diferente (o tal do aprofundamento nas questões), sim, e o desanuviamento da alcunha foi quase que completamente adquirido naquele local onde arreganham, escavacam, voam o mundo, local de nome bem apropriado: universidade.
Os advogados até aprendiam isso na escola, diziam, retórica, vulgarmente chamada da arte de 'aprender a mentir'. Aprendiam(em), por exemplo, a fazer de um culpado inocente.
Pra mim tudo da realidade soa, algumas vezes, tão simples, que uma distorção muito grande ecoa como agressão. E olhe que eu curto surrealismo, de todo o coração. Ressalto que isso aqui é uma página pessoal, opiniões pessoais... Mas adoraria que atirassem pedras no teto de vidro desta que vos joga os meros meneios de um pensamento louco.
Suavizar uma pena de assassinos como os de João Hélio ou como o dos pais de Suzanne Richthofen pra mim, não pode ser defendido por qualquer que seja o argumento. Foi maldade e pronto, caralho! Porra, será que esqueceram que por trás dos pais, do assaltado, existiam, como eles, seres humanos?? Meter bastões no quengo dos pais até a morte, arrastar uma criança que se esfacelava no asfalto, voando massa encefálica, mão, dedos, puta que o pariu, é foda por demais!!!
Mas, desde que não sejam realidades tão bem traçadas, acho que tudo tem dois lados, no mínimo.
Fico ‘de cara’ com os que se fazem capazes de tornar tudo plano, unilateral, ainda mais: linha e ponto.
Capacidade por demais de surrealista, distorção demais em minha opinião, de um ‘surrealismo’ violento, devastador.
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O ímpeto.
Não contenho isso em mim, e não condeno nunca jamais: o ímpeto já me trouxe as experiências mais diversificadas que pude vivenciar.
De ímpeto sou assolada, muitas vezes, por uma curiosidade imortal, mais até que a esperança, incontrolável por qualquer que seja a razão, o argumento. Até pela ciência.
A curiosidade, geratriz dos ímpetos, já me fez dar plenos passos em realidades completamente diversas, e o conhecimento dessa diversidade de realidades me assustou algumas vezes, me chocou outras, me fascinou muitas, mas, acima de tudo, me fizeram por demais aprender. Mais até: viver. Ter, possuir, apossar-me das histórias para serem contadas às escondidas pros netinhos mais sapecas.
Isso é mágico.
Sempre foi mágico.
Nunca deixou de ser mágico, por mais que o ambiente não estivesse interessante, a caipiroska meio cinzenta, gosto de limão passado da safra, banheiros fétidos que chegavam a dar medo até de encostar nas paredes. Ah, pros passantes eventuais que desconheçam esta que vos joga letras, nunca na existência tive frescuras com muita coisa, sou brasileiramente da bagaceira, produto internamente bruto de interior.
Bêbados inconvenientes, pores-do-sol em lugares completamente desertos, estancar numa cadeira a esmo no meio de uma quase-floresta bem de noite sem conseguir parar de conversar, nem conseguindo sentir medo.
Ah, os diálogos que não conseguiam ser completados em meio a crises incontroláveis de riso...
E a experiência mais recente foi a simpatia de um atendente de balcão super agradável, que nos atendeu tão melhor que em outros lugares muito mais, na acepção capitalista do termo, ‘conceituados’, que veio ao nosso socorro no balcão de livre e espontânea vontade, estava curtindo a festa e vendo-nos e percebendo que a atendente que deveria estar no balcão não estava... Devia ser conterrâneo da casa, nos atendeu, procurou a cerveja sem álcool no fundo do freezer, explicou que não tinha Líber em garrafa, só Kronnembier em lata e nos ciceroneou super bem. Perguntou se queríamos conhecer a Gal, foi muito cordialmente chamá-la, ficamos super felizes e expectantes! Mas ele volta meio explicativo, super simpaticamente do mesmo jeito, dizendo:
“- Ow, rapaz, infelizmente a Gal tá dormindo...” e explicando direitinho os motivos, os dias e as horas onde provavelmente ela estaria online.
“- Ela é uma pessoa 10, vcs precisam conhecer!”
Ficamos tristinhos de não poder conhecê-la, voltaremos outro dia sim!!!
E voltaremos.
O som não estava mesmo acariciando os ouvidos. Mas, a luz incandescia pontos laranja-fosforescente e verde-limão nas paredes, parede ao fundo grafitada com ‘Homofobia é crime’, uma menina dançava com a desenvoltura de uma morena do tchan, nunca tinha visto isso pessoalmente. Dançando mesmo, por prazer e se garantindo, sozinha, ao som que aos meus ouvidos não agradava, mas aos dela tanto que a embalava requebrando as cadeiras em cadência de dança do ventre, solta, leve mesmo.
E o espetáculo da liberdade que sonho de ser vivida ainda em meus dias de vigília na terra, onde todos possam se amar livremente, visto tão livremente na minha frente, nossa, me machuca tanto imaginar que por causa de ideologias, as pessoas não podem acariciar e andar de mãos dadas com seus amores sem terem mil cabeças viradas contrariadas em sua direção.
A cerveja deu lombra, acreditem!!! O psicológico é uma doidêra só, creiam.
Torna quase tudo realidade ou irrealidade, em igual proporção.
Eu lá, meio biritada de Kronnenbier sem álcool, sentada numa mesa, eu e meu melhor amigo, um olhando pra cara do outro.
“- E ai, tudo tranqüilo?”
Tava sim, tudo tranqüilo. Tudo tranqüilo em nossas mentes, em nossos corações, em nosso jeito impetuoso de ser.
Tudo que queríamos mesmo era que essa magia tivesse se estendido a todos...
Tão, mas tão infelizmente há mesmo a inconciliável contenda de gregos e troianos...
È essa mesmo a diversidade humana.
Que Deus me dê forças para exercitar cada dia mais a humildade e o respeito aos conservadores, aos compreensivos, incompreensivos, aos retóricos, aos loucos.
Diversidade.
4 comentários:
Nossa! Que grande. Da próxima vez você divide em dois posts (rs).
Ficou legal, acho que não existe outra forma mais macia de tratar a distoção de tudo que a gente conhece e reduzir fatos e atrocidades em fatalidades. Complicado.
Parabéns pela disposição.
Fiquei pensando.. até onde o princípio da instrumentabilidade humana é distorcido pela retórica liberal.Será que é? Até onde o organicismo do ímpeto, impera em nossa composição, seria de forma molecular como assim é em teu pensamento flor?
A instrumentabilidade diz que um humano completa o outro,não interessa as formas nem os meios.
A retórica neo-liberal, diz que um dinheiro completa o outro.
O Ímpeto não fala, ele é a decomposição do progresso linear.
Leis,técnicas,éticas e religiões. Fragmentos de textos, rasgados pelas inúmeras concepções do que representa a perpetuação da melhor face humana. Esmigalhados pela retórica, diante da ambição avassaladora que destroi as poucas possibilidades de uma felicidade coletiva, além das ilusões traseuntes.
Já em outras palavras: Quem eleva o que destroi? E quem destroi o que eleva?
Teu coração eleva o desejo até o ímpeto, neste texto. Nossa realidade interna é bem maior que a externa.Tal proporção ainda não é mensuravél, mais por deus!!!Os criadores de famintos,descobriram como lucrar com isso, apenas com uma pequena compreensão sobre o assunto.
É que este sistema bizzaro lucra, e nunca fica extasiado: além de lucrar com as duas realidades, também lucra com a diferença de proporção.
Moça esta tua complexidade diante do ser, da vida prende e fascina!
Desconexa? Não sei não...se encontrar um pedaço teu por ai quero colar tudo em mim, porque sugarei tua essência mítica em meu cerne, e aprenderei de ti mulher centelha!
Tudo de bom!Bom mesmo!
Tua amiga
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