quarta-feira, 21 de março de 2007

"Eros uma vez..."

Vou contar-lhes um segredo, e outro não poderia ser o jeito de falar sobre essas coisas: ao pé do ouvido, em palavras sussurradas, em meio a pudores sempre presentes às voltas das confissões, e assim sendo não por qualquer outro motivo qual ser essa a melhor forma. Afinal... Que jeito melhor de falar sobre emoções?

Ao pé da orelha, com o soprinho do hálito, o sussurrar baixinho, o tempero do 'quê de proibido', o frêmito arrepiante da brisa morna no lóbulo... Como poderia ser melhor? Hum...

Psssssiu... Vem cá: vamos falar de Literatura Erótica?

O segredo está na predileção por essa ‘escola’. Shhhhhh... Não conta a ninguém não, viu?

O muito gostar, o muito rir (sim, o Marquês de Sade faz jus ao derivado 'sádico' mesmo, tira onda pesada - e ótima - de muita coisa, dentre elas o celibato), o muito sentir, o tempero do interdito, a irreverência dos que se propuseram a escrever sem os pudores (e até o pudor que apareça vem como o toque que apimenta e aviva em primazia o desejo de muitos) sobre o assunto até mais velho que a mais velha das profissões, crucial na calmaria dos ânimos, na continuidade das gerações e inutilmente protegido de menções sem censuras por muitas das forças de ordem religiosa: o sexo.

Adoro ler sobre sexo.

Sexo verbal faz meu estilo.

Como mulher (mais sobre isso em parêntese a frente), nada que torne mais vivo o que vive aqui dentro, úmido e latejante: o que excite a imaginação.

Funciona de verdade, assim como para os homens funciona uma foto de uma mulher nua.

Adoro os livros para serem lidos com uma mão só.

Não sei, e não entendo bem o funcionamento disso. Deduzo: a imaginação, na mulher, sobrepõe a visão, nos homens. Sabe-se lá porque, pode ser o lance dos planetas nascituros de cada um, Marte e Vênus...

Pra homem (mais no tal mencionado parêntese), é só olhar um filme desses que não tem sequer uma conversinha no início da história, ou se tiver, algo como: “-E ai, gostosa, vamos foder agora?” E o mero olhar do vuco-vuco já deixa lá, o que é pra assim ficar, hasteando bandeiras.

Não vamos dizer por isso que mulher não sente nada vendo filmes pornôs: eu gosto até. Mas, pelo menos pra mim (“O” parêntese: querendo ficar bem distante de generalizações sobre a forma de sentir da mulher e do homem, pelo conhecimento e respeito que tenho quanto à diversidade humana) até pra lombrar num filme dessa espécie, a imaginação tem que imperar: fingir que o ator não esqueceu do ‘gentleman’ que possa haver ‘lá bem dentro’ de onde possa ser ‘que lá possa estar’, despi-lo da persona de ator e abstraí-lo como sendo o meu homem, e esquecer dos cabelos geralmente loiros da ‘moça’ pelos meus castanhos, e enfim, derivar todo o processo para o imaginativo.

A literatura nem sequer passa por esse processo: vai mesmo no cerne da questão.

E, alopática como eu, daí nasceu a predileção.

Um site que curto por demais tem uma sessão só sobre erotismo. Fica aqui como indicação: http://www.pontodevista.jor.br/erotismo/ero1.htm. A imagem que usei no post (Le Midi - o meio-dia - de Ghendt em guache de P.A. Baudouin) foi tirada de lá. Essa parte do site é quase uma antologia de diversos fazedores desse tipo de arte tão... Interessante. Também recheada de imagens legais pra caramba. O site todo é do caralho.

E não pense que as diversas menções ao imaginativo me fazem puritana... Hum, não. No, no, no. Que há de tão puro no sexo além do prazer?

O amor é um mixto de muitas coisas, muitas, e sexo com amor é a plena concretização do prazer mais soberano. Simples assim.

E quem disse que há puritanismo no sexo com amor? Hein?

Todos os 'vivas' aos que se dispuseram a montar para o nosso deleite linhas e linhas de pura... Imaginatividade.

Pra terminar, uma rapidinha de uma ótima merecedora de ‘vivas’, Anais Nïn.

"Trechos do Diário de Anais Nin

diário - I

Quero estar onde quer que você esteja. Deitada ao seu lado mesmo se você estiver dormindo. Henry, beije meus cílios, ponha seus dedos sobre minhas pálpebras. Morda minha orelha. Empurre meu cabelo para trás. Aprendi a desabotoar a sua roupa com rapidez. Tudo, em minha boca, chupando. Seus dedos. O calor. O frenesi. Nossos gritos de satisfação. Um para cada impacto do seu corpo contra o meu. Cada golpe, uma pontada de prazer. Perfurando numa espiral. O âmago tocado. O útero suga, para a frente e para trás, aberto, fechado. Os lábios adejando, línguas de cobra adejando. Ah, a ruptura - uma célula de sangue explodida de prazer. Dissolução."
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Uma ótima indicação também é a antologia das "100 melhores Histórias Eróticas da Literatura Universal", da Ediouro, organizada por Flávio Moreira da Costa, com um único erro de edição apenas: o tamanho e a grossura do livro não permitem-no servir a sua práxis de ser lido com uma mão só.

Hum, Angélica, muitíssimo obrigada pelo empréstimo do livro. Quando faremos o ritual de devolução?

3 comentários:

Anônimo disse...

Pois é,esses livros de ler de uma mão só são ótimos campos imaginiativos.Na verdade,funcionam pra mim como mais algum artefacto que comprova a excelência naturalista do sexo.'-é como comer!', já dizia.Ro me disse que agora ele compreende a veracidade dessa sentença tão apregoada por mim.É,é,é!Seja casual,seja fraterno ou afetivo,e até o individual: sexo me é necessário por demais.E o purismo?Caiu por terra há séculos.Pelo menos,neste cérebro.

Bises :}

contracultura disse...

eu adorei seu texto. vc tem um quê de escritora, a prolixidade, se é q posso falar dela de forma nao pejorativa, lhe cai muito bem. a criatividade tb a visitou, sem dúvidas qnt a isso. sobre me adicionar na lista de favoritos, me traria uma imensa honra e prometo fazer isso assim q for, de fato, dar uma arrumada no meu cantinho q está um pouco abandonado.

irei, tb, ler o mais q c escreveu aqui, mas vai me tomar um belo tempo, portanto escolherei uma hora na qual pessoas n interrompam minha masturbação intelectual.

grande beijo ;)

Rodrigo Da Costa disse...

Para mim, não é estrategicamente importante trepar. Venho comendo bastante nos últimos dias. O inverso seria fabuloso; comerem-me bastante. Ih, mas faz tanto tempo. Nem ligo mais. Preocupo-me. E, só esse termo já mostra meu grau de auto-repressão. Bato umas bem-bem. 30 segundos depois nem-nem. Sexo é a manifestação de uma força. A segunda em intensidade depois do Prâna. E, por englobar todo o corpo(não só a genitália) é de se crer. Porventura, o Chacra básico ou kundulíneo, que encontra-se depois do cóccix até a frente, a trouxa ou a periquita, tem mais um adjetivo de valor: é o chacra modelador. Molda; e, por certo, requer cuidado para com o uso, principalmente, por irradiar-se subindo as vértebras até o cerebelo e cérebro; no topo, o Lótus de mil Pétalas. Ação e reação constantes.
Mesmo ciente disso continuo no onanismo."Não faltam-te pretendentes." disse Alex Ander pra mim. É a mais pura verdade. A essa hora eles(os pretensos pretendentes)devem estar exercitando a Segunda Força Vital com quem quer que seja, mesclando os éteres corpóreos com um não-sei-quem, as vibrações miscíveis a depurar-se e esvaírem-se. Quer maior exemplo de purismo essa última observação? Sexo por sexo? Sim ou não. '-Apresente a carteira, por favor.' '-Pronto, pode gozar'.
Anäis Nin deve ter sido muito feliz com as trepadas que deu, inclusive com Henry Miller, mas, mais feliz por ter gozado nos textos que vivenciou. Empirismo Literário. Já fiz algo do tipo, quando frequentei os Neuróticos Anônimos. Só sai materialismo. Quer coisa melhor e mais instigante. Ouw... temo ser só isso nos ser dado. Em busca do algo a mais, perco-me lambuzado no tempero do interdito, sem calma, animalesco. Só, no claustro, a vadiar mais ainda. Shhhhh...

Excellence. É bom ver-te assim. Explicitando esse gênio, sua Monstra! Feliz estou por nós. Tantas coisas, hein? Beijo para o Ser Conjugado. Adorei esse fim de semana qüi mi casa, conhecendo Mademoiselle os titios, apesar da dor de dente; o alicate ao meu lado. Tentação. Amo vcs!